quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Se eu quiser falar com Deus


Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos dos meus sonhos
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E, apesar do mal tamanho,
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
Autor: Gilberto Gil, 1980

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Afinal, em que eu acredito?

Normalmente, cremos ou desacreditamos do conceito de Deus em virtude daquilo que nos foi ensinado ou transmitido e, muitas vezes, não analisamos o que realmente significa a nossa crença ou descrença. Por esse motivo, vale aqui expor os conceitos principais que norteiam esse aspecto de nossas vidas. É uma forma de inciar a compreensão do caminho que escolhemos ou daquele que devemos começar a trilhar a partir de então.
Baseado na explicação dada por Richard Dawkins em seu livro “Deus, um delírio”, vamos apresentar as quatro formas mais comuns de enxergar essa questão.
Primeiramente, temos a crença teísta, ou seja, aquela que acredita na existência de um ser que não só criou como ordenou e cuida de sua obra, principalmente nos aspectos de premiação e punição em virtude das atitudes corretas e dos pecados, concedendo milagre aos bons, tementes e devotos e castigo aos desobedientes e pecadores. As doutrinas ocidentais monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) baseiam-se nessa maneira de entender Deus.
A outra forma de enxergar o Criador, chamada de deísta, é aquela que justamente o percebe como princípio de tudo, mas que não lhe atribui influência direta na vida das pessoas, sendo o prêmio ou a punição apenas uma conseqüência da maneira que cada um escolhe para adaptar-se às regras definidas quando da criação do Universo e que existirão até o fim dos tempos. São conceitos mais comuns para os orientais e acompanha grande parte dos cientistas não ateus.
Há também aqueles que compreendem Deus como o todo, sendo o Universo a imagem imanente do Deus transcendente. Não há divisão entre Criador e criação, sendo ambos aspectos opostos e complementares de um mesmo princípio. São os panteístas e abrangem a filosofia pagã e parte da filosofia oriental. Assemelham-se muito à idéia politeísta, onde os diversos aspectos da natureza são representados pela figura de um deus, criando um panteão de deuses. Vale lembrar, também, que os panteístas costumam entender que existe uma alma no mundo, geralmente conhecido como Gaia, a mãe terra.
Finalmente, existem aqueles que entendem que a natureza por si só se basta, não necessitando de um ser responsável mantenedor, de um criador ou mesmo de uma representação Dele para existir e são conhecidos como ateus.
Existem, ainda, algumas outras definições, assim como o pantiteísmo, o panenteísmo, o ceticismo, mas que são muito próximas a uma das quatro citadas.
É preciso citar, também, um conceito sobre o assunto que será abordado em uma postagem futura por ser de extrema importância para a idéia do Painel do Desenvolvimento Humano, mas que não pode ser encaixado exatamente em nenhum dos casos acima. É o conceito de agnosticismo, que muitos confundem com ateísmo. Ambos não são a mesma coisa e, por isso, demandam de um texto exclusivo para esse esclarecimento e mais alguns detalhes fundamentais dessa filosofia.
Todos esses olhares sobre o conceito de Deus são meios de o ser humano buscar a evolução. Todos têm seus pontos positivos e negativos, seus acertos e seus erros, e cada um de nós deve, primeiramente, tentar entender um pouco melhor todos eles e sentir qual nos toca mais enquanto humanos buscando um novo patamar de existência.
E, acima de tudo, compreender que um caminho, embora diferente dos outros, não os invalida nem os diminui. Compreender os caminhos também é, antes de tudo, aceitar a diversidade como mola propulsora da evolução. 

(Autor: Alex Francisco Paschoalini)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Painel do Desenvolvimento Humano


Partindo do que foi explicado na postagem anterior, vamos falar sobre a idéia de criação de um mapa ou um roteiro para a evolução humana, onde todos os possíveis caminhos possam ser representados, para que cada um tenha a oportunidade de perceber aquele que mais lhe convém ou agrada.
O Painel do Desenvolvimento Humano seria uma espécie de atlas dos caminhos percorridos pelos grades luminares da humanidade, sejam sábios, cientistas ou homens santos, em busca de uma evolução maior, não no sentido tecnológico ou econômico que vemos hoje, já que esta evolução tem uma forte tendência auto-destrutiva, mas no sentido de evolução  humana verdadeira, de relacionamentos com os semelhantes, com o planeta e com o Universo. Aquela compreensão que nos permite saber exatamente onde nos situamos dentro da Criação.
Agrupar em um mesmo painel todos os princípios morais, sejam eles religiosos, científicos ou filosóficos, e estabelecer as melhores rotas que cada um pode percorrer, as semelhanças e as complementariedades que contém cada estrada, enfim, traçar um panorama ético da caminhada humana e uma proposta plural e segura para os passos futuros das pessoas.
Não é uma proposta para substituir aquela em que cada um se encontra, embora isso também possa ser alcançado, mas para reforçar a certeza no sentido de sua caminhada, uma vez que, hoje em dia, muitos são os que perderam o rumo e não sabem exatamente para onde estão indo.
Encontrar-se dentro de sua vida, da história de sua existência é uma das grandes dádivas que o ser humano pode alcançar e o propósito do Painel é dar essa oportunidade às pessoas.
Assim como no Mapa Mundi, é preciso se localizar na esfera de sua existência para compreender o melhor caminho a seguir ou a melhor maneira de chegar e trilhar o caminho que você decidiu seguir. Dessa forma, sua jornada será muito mais iluminada, bem-aventurada e consciente.
É esse o nosso propósito, o nosso objetivo principal!

(Autor: Alex Francisco Paschoalini)

sábado, 12 de novembro de 2011

Aspectos da Ética e da Moral

Este texto é o ponto de partida para a idéia de Painel do Desenvolvimento Humano que será postado em seguida e analisada por vários ângulos de agora em diante. A apresentação, embora superficial, do entendimento filosófico sobre os termos Ética e Moral nos trará uma compreensão maior sob os aspectos diversos da busca humana por um sentido maior, seja este conhecido como Deus ou deuses ou apenas uma maior harmonia na convivência humana.
Primeiramente é preciso dizer que a etimologia de ambas as palavras lhe conferem um aspecto de similaridade. O termo latino moris e o termo grego ethos são entendidos como costumes. Mas aos olhos da filosofia, ambos possuem funções diferenciadas.
Moral são as regras de conduta de uma determinada cultura ou de um determinado grupo, enquanto que a Ética é o estudo teórico do conjunto de regras morais das sociedades humanas. O primeiro tem caráter subjetivo e social, enquanto o segundo tem um caráter universal. Seriam a prática e a teoria das atitudes humanas, a ação e o conhecimento.
Afirma-se que a Moral sempre existiu, visto que todo ser humano dotado de razão sabe distinguir o bem do mal no contexto em que vive.
A Ética, por outro lado, surgiu a partir da filosofia clássica na Grécia e serve para investigar e explicar as normas morais isenta da influência dos conceitos de tradição, educação ou hábito, fundamentando-se na lógica e na inteligência. É, por assim dizer, o bom senso do comportamento individual e coletivo.
Podemos concluir que a Moral é o ponto de origem da vida social enquanto que a Ética é o marco divisório da vida intelectual.
A partir desse ponto, passamos a analisar esses termos no aspecto do desenvolvimento humano, em especial, no que diz respeito às doutrinas religiosas e ao embate fé e razão, ou crença e ateísmo.
As instituições religiosas são as guardiãs da tradição, dos costumes e ritos e essa atitude geralmente esbarra nos conceitos morais primitivos de sua criação. Da mesma forma, suas doutrinas filosóficas protegem os dogmas que fundamentam a religião e são eminentemente tradicionais e moralista na grande maioria dos casos.
Até mesmo o conjunto dos membros, apesar de muitas vezes formarem linhas paralelas de atuação dentro do contexto de cada religião, como a Teologia da Libertação no caso da Igreja Católica no Brasil, e de ter parcialmente uma conduta mais voltada à ética, mesmo que contrariando alguns ditames morais por já estarem ultrapassados, ainda assim esbarram no dogmatismo ao qual são subordinados.
Resta, então, o indivíduo, seja ele crente ou descrente, religioso ou ateu, como fonte de evolução humana, voltando ao que já pregava Aristóteles, ao afirmar que o indivíduo é que deveria ser trabalhado.
Portanto, adaptando os conceitos ao ideal do Painel do Desenvolvimento Humano, Moral são os vários caminhos que podem ser percorridos, enquanto que Ética e a maneira de caminhar e o destino que esses caminhos devem levar.
Veremos onde isso realmente quer chegar no próximo texto.

(Autor: Alex Francisco Paschoalini)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Uma história sobre redenção

Para aqueles que leram as duas últimas postagens e, talvez, julgaram que só consigo ter essa perspectiva positiva da vida graças aos êxitos alcançados nessas histórias, é importante que se mostre o outro lado da moeda.
No auge de seus 42 anos de idade, na fase que poderia ter sido o ápice de sua maturidade, meu irmão mais velho, aquele a quem, na infância, eu chamava de mestre e que me tratava como discípulo, faleceu vítima de um infarto fulminante. Uma depressão persistente durante mais de dois anos e profunda nos últimos meses exauriu-lhe gradativamente as forças e culminou no acidente vascular que o levou de nós. Uma capacidade intelectual incrível sendo vencida pelos labirintos de sua própria mente.
Como herança dessa partida prematura, três filhos ainda bem jovens e uma imensa saudade por parte de seus pais e irmãos.
Li tempos atrás no livro “Quando o sofrimento bater à sua porta”, do Padre Fábio de Melo, que a morte deve ser transformada em redenção por aqueles que ficaram. Redenção no aspecto de redimir os erros sem repetí-los e salvar a memória daquilo que foi aprendido e ensinado por quem partiu. Mais do que ressuscitar os mortos, a redenção deve servir para acordar os vivos.
Tratamos de dar apoio aos três jovens que ficaram nos mais variados aspectos necessários para o desenvolvimento deles. De minha parte, procurei orientá-los em suas caminhadas psíquicas e espirituais, mostrando a eles que a fatalidade era inevitável, mas que era possível torná-la um aprendizado ao invés de um calvário.
E eles aprenderam logo que preservar a memória do pai era, antes de mais nada, não lamentar essa separação precoce e inesperada. Conseguiram transformar seus aprendizados em uma seqüência das coisas que ele havia aprendido e os erros dele em um alerta, tornando-os, de maneira jocosa, em uma lembrança divertida de sua imagem humana imperfeita.
Ainda citando o livro do Padre Fábio de Melo, uma das depoentes afirmou que a morte de seu filho revelou partes da essência dela escondidas nos cantos de seu ser que somente essa dor poderia revelar.
Hoje sei que é fato que os momentos revelam coisas apenas a quem os vive, sejam felizes ou dolorosos. Também nós nos apegamos a essa filosofia, e a cada dia tentamos transformar o pesar de sua partida em uma oportunidade de aprender e ensinar algo novo.
Não é mais o caso de como conviver com essa perda, mas a idéia de o que fazer da vida a partir dela. Deixar a morte sepultada em seu túmulo e levar à redenção as coisas que fizeram a vida dele valer a pena.
Talvez nenhum de nós, ou nossos filhos, ou os filhos de nossos filhos possa ter novamente, em algum lugar ou plano, a oportunidade e o prazer de olhar naqueles sábios olhos ou de receber seu largo sorriso. Mas a semente de sua essência, plantada pelo Criador quando o trouxe a vida, está sendo muito bem cultivada e, certamente, gerará sombras refrescantes, flores perfumadas e frutos doces mesmo àqueles que jamais suspeitarão que um dia ele existiu.
(Autor: Alex Francisco Paschoalini)